Dia 03 de setembro - Dia do Biólogo
Desde criança sempre gostei de Ciências, porém, somente no Colegial, atual Ensino Médio, quando entrei pela primeira vez em um laboratório, fiquei boquiaberta e encantada. Assim, eu esperava ansiosamente todas às sextas-feiras, as aulas práticas de Biologia e Química.
Queria ser médica, e acreditava que esse seria o meu futuro. Ao final do 3⁰ Colegial, não passei no vestibular de uma universidade pública, portanto, fiz um ano de cursinho. Novamente não consegui passar, assim desisti desse sonho. Hoje percebo que a inexperiência da idade fez com que eu não enxergasse, e consequentemente vivia infeliz e não encontrava outra opção.
Em 1997, por insistência de uma prima, prestei vestibular para o Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, na Fundação Santo André, em Santo André - SP. Passei muito bem classificada, e em março de 1998, um novo mundo surgiu. Um mundo fantástico com inúmeras possibilidades, pois o estudo da vida possui um leque, diferentes subáreas como: zoologia, botânica, citologia, genética, bioquímica. Como eu não tinha pensado nessa hipótese anteriormente?
Logo no início do curso, em uma aula de Introdução à Biologia, um professor nos disse que na universidade dificilmente aprenderíamos algo na prática, assim recomendou para que todos nós fossemos atrás de um estágio. Abracei a ideia imediatamente e logo pensei no Zoológico de São Paulo, claro, ser biólogo, é sinônimo de amar os bichos, as outras subáreas sequer passaram pela minha cabeça. Assim, liguei animada para o zoo. Nesse tempo não existia internet e as informações e contatos eram feitos por telefone. O atendente do zoo informou que o estágio teria que ser em período integral e com duração de 30 dias. Isso logo inviabilizou o meu plano, pois eu estudava no período matutino e teria que esperar as férias.
Estava tão obstinada com a ideia do estágio que resolvi pensar em um outro local. Fechei os olhos e lembrei do Jardim Botânico. Ele ficava ao lado do zoo. Que tal se eu ligasse e perguntasse sobre a possibilidade de um estágio. Prontamente fui atendida e a atendente disse que eu poderia ir lá no dia seguinte. Fiquei radiante com a notícia e assim, fui com mais duas colegas até o Instituto de Botânica. Aqui faço um parênteses, vocês perceberam que eu nem sabia da existência do Instituto? Achava que era apenas o Jardim Botânico.
Fomos (Joice, Bete e eu) recebidas pela Dra Olga Yano, e prontamente encaminhadas para a Seção de Anatomia e Morfologia. Assim, conversei com a Dra Edenise Segala Alves e comecei um estágio voluntário por três meses com o tema: a anatomia caulinar do Dialypetalanthus fuscescens. Fiquei encantadíssima com os equipamentos, com o laboratório, e acabei descobrindo que os reagentes/corantes precisam ser feitos e não comprados prontos! Uau que maravilha! Os três meses voaram e assim, resolvi ficar até completar um ano. Nesse período, também aprendi a fazer desde as fichas catalográficas até o relatório final.
Um pouco antes do final deste estágio, tive a oportunidade de concorrer a uma bolsa de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq). Ganhei-a e comecei a desenvolver o projeto do bioensaio Trad-MCN, que detecta mutações cromossômicas em células-mãe de grãos de pólen de Tradescantia pallida. Uma vez por mês, ia coletar as minhas plantas na FMUSP, pois esse projeto foi realizado em parceria com eles. Que ironia do destino, não!
Consegui a renovação da minha bolsa de IC por mais um ano. Assim, o estágio terminou em julho de 2001, mesmo ano que encerrei a minha graduação. Continuei indo voluntariamente, pois comecei a desenvolver um projeto com uma gramínea, Lolium multiflorum, que avaliava os danos decorrentes da poluição aérea nas folhas. Neste momento, me apaixonei completamente pela anatomia vegetal.
Essa paixão fez com que eu fizesse Mestrado no Programa de Pós-graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente, do Instituto de Botânica. A primeira tentativa foi frustrada e assim, me preparei por mais um ano. Durante esse período ganhei uma bolsa de Aperfeiçoamento Técnico da FAPESP, dentro do projeto da Dra Silvia Ribeiro de Souza, e terminei o meu segundo artigo científico, produto da minha IC, publicado posteriormente no periódico “Ecotoxicology and Environment Safety”.
Quando entrei em 2004, percebi no dia-a-dia o que era realmente fazer pesquisa científica. Novos contatos, disciplinas em outras Instituições (USP, UNICAMP) e um mundo novo surgiu. Vivia completamente para a minha dissertação. Assim, dois anos voaram e meu amor pela anatomia só aumentou. Emendei o Doutorado, fazia o que amava e não sentia o cansaço e o peso da responsabilidade. A cada passo que dava, mais independente eu ficava. Agradeço muito à minha orientadora, pela confiança, afinal me orientava desde a IC.
Defendi a minha tese de doutorado em novembro de 2009. Logo após, fui dar aulas e compartilhar todo o conhecimento adquirido ao longo destes anos. Destaco aqui, que sou um ponto fora da curva, pois, a maioria das pessoas não encontra na primeira tentativa a área de trabalho que irá desenvolver a sua pós-graduação. Fui muito feliz nesse aspecto e sortuda, pois morava perto do botânico, o meu amor.
Em 2011, comecei a sentir falta da rotina da pesquisa e resolvi fazer um pós-doutorado. Voltei ao meu grupo de pesquisa e a Dra Marisa Domingos me recebeu com os braços abertos. Escrevemos um projeto e a FAPESP aprovou. Este período foi o mais desafiador da minha vida, comecei a orientar oficialmente e também a dar aulas no curso da pós. O dia-a-dia era intenso e apaixonante. Divulguei o nosso trabalho em dois Congressos Internacionais, Kaunas-Lituânia, e Regensburg-Alemanha. Publiquei alguns artigos pendentes do doutorado e ainda fiz um período-sanduíche de estágio em Florença, Itália, com o Dr Filippo Bussotti, um dos autores que mais li durante a minha pós-graduação.
Após dois anos de pós-doutorado, dei aulas no Centro Universitário São Camilo. Prestei vários concursos para Professor Adjunto de Anatomia Vegetal, e infelizmente não consegui. Porém consegui passar em primeiro lugar na vaga de Professor Substituto, no Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), campus São Paulo. Fiquei um ano e meio no IFSP, e aprendi a enxergar com outros olhos a minha profissão. Dei aulas de Botânica e suas subdivisões, Ecologia, Estatística, Biodiversidade. Porém, dando aulas para o Ensino de Jovens e Adultos (EJA), consegui entender o porquê da Biologia ser difícil para as pessoas em geral. Nós, simplesmente não conseguimos transmitir com facilidade todos os termos e nomenclaturas biológicas. Biologia é um idioma, e precisa ser exercitado diariamente. Assim, as pessoas perdem o interesse e passam a odiar esse mundo fantástico.
Hoje, um dos meus principais objetivos é divulgar o conhecimento da maneira mais criativa e fácil possível. Graças ao mundo digital e toda a facilidade tecnológica estou conseguindo caminhar nessa área. Criei o Biodiversidade em fatias (Facebook: https://www.facebook.com/biodiversidadeemfatias/ Instagram @biodiversidadeemfatias) e explico a diversidade vegetal e animal com uma linguagem acessível para o público em geral.
Agradeço em especial aos meus pais, uma professora de Ensino Fundamental I e um securitário, pois graças aos esforços deles tive o privilégio de estudar nas melhores escolas.
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